De maio a agosto deste ano, a Casa da Mulher Alagoana atendeu 88 mulheres. A maioria relatou sofrer mais de um tipo de violência, simultaneamente. A que lidera os relatos é a violência psicológica, conduta que causa dano emocional, diminuição da autoestima e prejuÃzo ao desenvolvimento das vÃtimas.
"Não é surpresa para nós que a violência psicológica seja a que mais aparece. Sabemos que a violência não começa com o tapa, o soco, a facada. Ela começa com a comunicação violenta, com as agressões verbais, com as ameaças, humilhações, e isso tudo acaba se enquadrando em violência psicológica, porque fragiliza a mulher em sua confiança e autoestima", afirmou a psicóloga Bárbara Abreu.
Ainda segundo ela, muitas mulheres têm dificuldade de identificar que são vÃtimas de violência quando ela não se apresenta de forma fÃsica. "Muitas acham que está tudo bem em ser tratada com grosserias, gritos, desrespeito, ofensas, humilhações, controle e ciúme excessivo por parte de seus parceiros, porque esse 'é o jeito dele'. Além disso, existe o medo de que não haja resolutividade da sua denúncia, mas nós estamos aqui justamente para acionar todos os mecanismos possÃveis para que essa mulher seja protegida e cuidada", reforçou.

De acordo com o juiz Thiago Morais, da Comarca de Mata Grande, as vÃtimas de violência psicológica podem comprovar sua ocorrência em juÃzo por meio de prints de conversas no whatsapp, mensagens de texto ou e-mails, além da própria prova testemunhal. "A palavra da vÃtima é dotada de especial relevância. Os meios de provas, portanto, são vários. O importante é que a mulher não se cale".
Perfil
As mulheres atendidas pela Casa, nesses três meses, tinham entre 18 e 79 anos e moravam em diferentes bairros de Maceió, como Clima Bom, Trapiche, Ponta Verde, Bom Parto, Jacintinho, Village, entre outros.
Depois da violência psicológica, os tipos mais relatados foram a moral, a fÃsica, a patrimonial e a sexual. "Mesmo com o aumento da demanda, sabemos que o número de mulheres atendidas ainda não reflete a realidade das que são vÃtimas de violência doméstica, o que sinaliza a necessidade de seguirmos encorajando essas mulheres a registrarem a denúncia em um espaço onde ela será acolhida e acompanhada nesse processo", destacou Bárbara.
Denúncias
Dos 88 atendimentos, 57 levaram ao registro de denúncia na delegacia que funciona na Casa. Trinta e um foram encaminhamentos para outros setores, como Defensoria e Ministério Público.
"Quando o caso é criminal, a polÃcia confecciona o Boletim de Ocorrência, toma as declarações da vÃtima e requer a medida protetiva. O acompanhamento dessa mulher continua mesmo após o pedido ou deferimento das medidas", explicou a delegada Rosimere Chaves.

Casa da Mulher Alagoana funciona ao lado da Praça Sinimbu, no Centro de Maceió. Foto: Caio Loureiro
Atendimento
A Casa da Mulher funciona ao lado da Praça Sinimbu, em Maceió. A vÃtima passa inicialmente pela recepção, onde são colhidos os seus dados pessoais. Depois, ela é encaminhada para a equipe multidisciplinar da Casa.
Psicólogas e assistentes sociais fazem a escuta qualificada dessa vÃtima e, dependendo da necessidade, a encaminham para a delegacia, Defensoria Pública ou outro setor.
Na delegacia especializada que funciona no local, a mulher pode denunciar o agressor. De lá, sairá pedido de medida protetiva, que será analisado pelo Juizado.
A Casa conta ainda com dormitório, berçário, banheiros e copa. A mulher que quiser deixar o local onde sofreu agressão pode se abrigar temporariamente na Casa.
A mulher assistida também pode ser encaminhada ao projeto "Tem SaÃda", coordenado pela Ordem dos Advogados (OAB/AL), que visa proporcionar a independência financeira das vÃtimas de violência doméstica, colocando-as ou recolocando-as no mercado de trabalho.
A Casa da Mulher Alagoana funciona de segunda a sexta, das 7h30 às 19h30. O telefone para contato é (82) 2126.9650.
Diego Silveira - Dicom TJAL
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